1 de dezembro de 2010

Inflação engorda ganho de supermercados

Apesar do recorde de alta nos preços dos alimentos, em outubro, consumidor mantém volume de compras nas gôndolas. Resultado: só em Minas, faturamento já aumentou 8,7% este ano

A alta de preços dos alimentos – que bateu recorde do ano em outubro – não impediu os consumidores de irem às compras nos supermercados brasileiros. Aliada ao aumento da renda e à elevação do nível do emprego no país, a inflação no grupo alimentação foi responsável por engordar o faturamento do setor no mês passado. Conforme números da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a receita cresceu 3,85% frente a outubro de 2009. No acumulado de 2010, houve alta de 4,66%, na mesma base de comparação. Em relação a setembro, a curva é positiva em 7,02%. A previsão é também de um Natal promissor, com o avanço de 12% da receita ante a data de 2009. “Com os bons indicadores macroeconômicos, como o aumento da massa salarial e a redução do desemprego, temos boas perspectivas de vendas para o fim do ano", afirma o presidente da Abras, Sussumu Honda.

Minas Gerais segue o rastro do setor no país, entretanto, com percentuais acima do faturamento da média nacional. Segundo dados da Associação Mineira de Supermercados (Amis), as vendas cresceram 7,12% no mês passado em comparação com outubro de 2009. Nos dez primeiros meses, a alta é de 8,74% e, frente a setembro, o resultado é positivo em 3,84%. Por aqui também, a soma de fatores macroeconômicos influenciou as compras dos mineiros. Para o superintendente da Amis, Adilson Rodrigues, a inflação de alguns produtos alimentícios não encalhou esses itens nas gôndolas. “O aumento dos preços não afetou as vendas. O consumidor continua com a mesma disposição para comprar e agora com dinheiro no bolso”, diz Rodrigues. Segundo a Abras, no acumulado de 2010, o maior crescimento do país foi registrado na região que engloba Espírito Santo, Minas Gerais e interior do Rio de Janeiro, com alta 10,5%, seguida pelo Sul (9,2%) e Grande São Paulo (8,4%).

De acordo com o executivo, havia demanda reprimida nas classes D e E e, com isso, a baixa renda continua aquecendo o termômetro do setor. O aumento dos salários, para Rodrigues, foi outro fator determinante. “O primeiro dinheiro (que entra) é gasto nos supermercados. O que ocorre é que antes os consumidores iam com R$ 200 para fazer as compras. Agora, vão com R$ 400 e gastam esse valor, nem que para isso precisem substituir alguns alimentos para manter o volume de compra”, explica.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo alimentação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) bateu recorde do ano em outubro ao avançar 1,89%. Com a alta expressiva, respondeu por 57% da composição geral do IPCA. “Alguns preços estão se arrefecendo, como o da carne, por exemplo. A tendência deve ser de acomodação, mas o consumidor não deve esperar uma baixa expressiva por causa da época do ano”, diz Rodrigues. A Amis prevê um crescimento de 8% nas vendas neste Natal.

A professora aposentada Lúcia Rodrigues conta que para driblar a alta dos alimentos e manter o volume de compras fica atenta ao movimento do setor. “Corro atrás de promoções e inaugurações, pois quando algum supermercado abre as portas, pode saber que tem desconto bom”, afirma. Ela concorda com o superintendente da Amis e diz que gasta o mesmo valor nas compras, porém fazendo malabarismo. “Quem sobreviveu à época da URV (instrumento provisório criado pelo governo em 1994, antes do Plano Real), ainda não dá para assustar e começar a fazer estoque. Entretanto, tive que substituir alguns produtos por outros mais em conta para continuar levando para casa o mesmo volume”, relata, citando a substituição da carne vermelha por frango.

Já a arquiteta Bárbara Braga contou com um bom argumento para amenizar os efeitos da alta dos alimentos no bolso e continuar mantendo suas idas ao supermercado. Ao mesmo tempo que os produtos inflacionaram, ela recebeu reajuste no vale-alimentação que recebe da empresa onde trabalha e usa o cartão para fazer compras. Mesmo com a alta de cerca de 15% no benefício, ela teve que tirar da carteira o complemento para continuar levando para casa os produtos de antes. “Nos últimos meses, tenho completado o valor em até 40% do total da compra”, conta. A professora de francês Lili Albuquerque afirma que está gastando mais nas compras semanais que realiza, principalmente no compra de frios. “A alta (dos preços) não fez com que eu deixasse de vir aos supermercados, mas estou gastando mais. Isso só ocorre porque gasto pouco, compro para mim e meu marido. Se meus dois filhos ainda morassem comigo, teria que mudar os hábitos alimentares, com certeza.”

Fonte: O Estado de Minas

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