A Campeiro Alimentos, localizada em Tubarão (SC), fechou as portas depois de 20 anos de mercado. Com dificuldades de pagamento de dívidas que somam cerca de R$ 40 milhões, a beneficiadora do arroz Campeiro demitiu seus 130 trabalhadores e acertou no último dia 6 um acordo rescisório.
De acordo com informações de mercado, a Campeiro Alimentos processava cerca de 10 mil toneladas de arroz por mês, proveniente do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, e tinha filiais de comercialização em São Paulo, Distrito Federal, Bahia, Maranhão e no Rio Grande do Sul.
Jaime Franzner, presidente da empresa Urbano e do Sindarroz-SC, sindicato que representa as 40 indústrias produtoras de arroz no Estado, considerou o caso isolado, e não um problema generalizado de todo o segmento.
"A crise estourou de uma hora para outra na empresa", disse. Franzner notou, entretanto, que a Campeiro havia reduzido o ritmo de compras de arroz na safra colhida a partir do último mês de janeiro em Santa Catarina. Segundo ele, a Campeiro estava entre as dez maiores produtoras de arroz do Estado. Entre as suas concorrentes, além da Urbano, estão Cereais Realengo e Copagro.
A Campeiro teve seu controle vendido há cerca de três anos para o empresário americano Gary Kennedy e um sócio brasileiro chamado Alexandre Tavares, que não foram localizados pelo Valor. Um novo administrador, Liandro Concalo, que assumiu em abril, depois que a crise financeira da empresa estourou, também foi procurado, mas não respondeu aos pedidos de entrevista. Ontem, ninguém atendia o telefone da Campeiro.
O fechamento repentino da empresa está motivando uma denúncia e um pedido de prisão preventiva à Justiça Federal pelo procurador da República do Ministério Público Federal Celso Três, de Tubarão, que informou que fará a acusação nesta quarta-feira. Três afirma que houve defraudação de penhor contra a fazenda pública (estelionato) por parte de Tavares, que, para o procurador, "pode ter ludibriado o sócio americano".
Segundo ele, o ex-administrador da empresa pegava empréstimos do governo federal a baixos juros, usados para fomentar a agricultura, e repassava esses recursos para a sua factoring Maxicred, que então repassava verba para agricultores a taxas mais altas, constituindo assim a prática de agiotagem com uso de dinheiro público.
Segundo Três, os agricultores, em vez de beneficiados pelo baixo juro do dinheiro do governo federal, eram "espoliados". O procurador reuniu como exemplo 59 produtores que, juntos, teriam contraído empréstimos de R$ 2,9 milhões no início da safra de 2008 e que tiveram que pagar R$ 4,1 milhões cerca de seis meses depois.
Empresas concorrentes ouvidas pela reportagem informaram que "estranhavam" o fato de a Campeiro pagar um valor cerca de 10% maior que o resto do mercado pela produção do arroz no campo e vender cerca de 10% mais barato no varejo. "Essa conta não fechava. Não sabíamos se éramos nós que não sabíamos trabalhar ou se era essa empresa", disse um empresário do ramo, que considerou também agressiva a estratégia de abertura de filiais nos últimos anos.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Carnes e Alimentos de Tubarão e Região, Vilmar Antônio de Faveri, o sindicato chegou a entrar na Justiça para garantir o pagamento da rescisão dos funcionários da empresa porque havia indícios de que ela poderia não cobrir as despesas por conta do agravamento de problemas financeiros.
"Sabíamos que ela estava devendo a produtores e agimos para assegurar o direito dos trabalhadores, com estoques e maquinários", disse. Segundo ele, no dia 6 foi acertado o aviso prévio e o recebimento de todos os direitos, considerando inclusive um aumento de 6,5% do salário. A data-base da categoria seria em maio. O sindicalista destacou que os salários estava sendo pagos em dia e não houve férias coletivas recentes que indicassem os problemas. "Havia apenas comentários de produtores que não estavam recebendo os pagamentos da safra pela empresa".
Santa Catarina é o segundo maior produtor de arroz do país, atrás somente do Rio Grande do sul. O Estado é responsável por 8,4% da produção nacional, colhendo aproximadamente 1 milhão de toneladas por ano, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A cidade de Tubarão é a quarta mais forte na produção catarinense de arroz. As três maiores são Araranguá, Criciúma e Joinville.
Fonte: Valor Econômico
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