12 de março de 2012

No Brasil, L'Oréal entra no varejo com a Kiehl's





A L'Oréal Brasil começa o ano com movimentos inéditos na trajetória da subsidiária. Um deles será a entrada no varejo. Vai abrir sete lojas até dezembro e a previsão é de chegar a 50, em quatro anos. As lojas irão vender apenas a linha de luxo Kiehl' s, importada dos Estados Unidos.

Com fábricas no país há mais de 50 anos, o grupo francês atua com 23 famílias de produtos no mercado brasileiro, dos quais 95% são produzidos localmente.

Outra novidade é o foco na pesquisa científica da biodiversidade brasileira, com o objetivo de produzir matéria-prima para cosméticos e perfumes. Os estudos serão desenvolvidos no novo centro de pesquisas da L'Oréal, no Rio, anunciado em dezembro.

"Destinamos R$ 150 milhões apenas para infraestrutura nos próximos dois anos. E [desse total] R$ 70 milhões serão só para o novo centro de pesquisas", diz ao Valor o francês Didier Tisserand, que assumiu a presidência da subsidiária brasileira em setembro. O plano de R$ 150 milhões também considera R$ 40 milhões para ampliar a capacidade de produção das duas fábricas (em São Paulo e no Rio).

O engenheiro, que está há 21 anos na L'Oréal, é casado com uma ex-colega de trabalho, alemã. O casal tem duas gêmeas inglesas e uma caçula, nascida no Japão. Ele veio do comando da empresa na Espanha. E diz que a transferência ao Brasil foi um misto de definição da matriz e da vontade que alimentava de trabalhar em um dos países que formam os Brics.

"A contribuição do que chamamos de novos mercados [América Latina, Ásia e Europa Oriental] passou de 19% do faturamento, em 2010, para 38% em 2011", diz Tisserand. No mundo, a L'Oréal cresceu 5,1% em 2011. Nos emergentes, 9,5%. "Na América Latina o crescimento foi de 13,2%", disse.

No Brasil, a empresa cresceu "mais de 10%" e fechou o ano passado com faturamento de R$ 1,8 bilhão. Com a crise na Europa e retração do mercado americano, o Brasil ganhou mais peso no grupo.

Tisserand não aceita provocação quando o tema é concorrência, mas, ao que tudo indica, o grupo francês, com faturamento no ano passado de € 20,3 bilhões, quer crescer em todos os segmentos de produtos de beleza no Brasil. Vai entrar em nichos onde a também francesa L'Occitane atua com lojas bonitas e cheirosas. E também vai disputar com as nacionais Natura e O Boticário.

"Queremos ampliar os produtos para o país e para as brasileiras. Impressionante como a mulher brasileira vive a beleza. Elas fazem um movimento com os cabelos, com sensualidade. O cabelo é a principal preocupação da mulher brasileira", diz em bom português, ora com uma ou outra palavras em espanhol e italiano, herança dos idiomas dos países onde trabalhou.

Tisserand já esteve em Porto Alegre e agora vai visitar Recife. "Queremos ver como as mulheres se tratam. Vamos a muitas partes do país pois aqui as mulheres, dependendo da região, têm gostos diferentes, usam perfumes diferentes", observa.

Ele visitou favelas cariocas e fala, impressionado: "No Complexo do Alemão há 350 salões de beleza, oferecem produtos e técnicas de qualidade", diz, referindo-se ao conjunto de favelas situado na zona norte da capital.

Embora a proposta seja também exportar o que for criado aqui, o centro de pesquisas - sexto no mundo do grupo - vai fundamentalmente desenvolver fórmulas para o mercado local. A previsão é que o centro possa entrar em operação em 2014. Cinquenta especialistas já estão sendo treinados nos laboratórios na sede do grupo, nas fábricas e também em Paris. Quando pronto, vai ter de 150 a 200 pesquisadores, segundo Tisserand.

A fábrica do Rio já tem um laboratório, que desde 2008 cria produtos voltados para o país na área capilar e de desodorantes. Mas o centro de pesquisas vai mais adiante e tem o objetivo de permitir pesquisas avançadas, junto com universidades, em laboratório mais completo com linha capilar e beleza.

A fábrica do Rio tem 30 mil m² de terreno e 24 mil m² de área construída. Vai crescer com a compra de um terreno ao lado da atual, ganhando mais 43% de espaço. A unidade paulista conta com 143 mil m² de área total e 45,9 mil m² de área construída.

Em 2011, a unidade fabril carioca sofreu uma reorganização interna com o objetivo de aumentar a produção de protetores solares. "Uma nova tendência de uso no Brasil que está sendo crescente, uma mudança de mentalidade", destaca Tisserand.

.A fábrica está recebendo um novo maquinário, tem capacidade para produzir até 40 milhões de unidades de produtos para cabelo, por ano. O Brasil é o primeiro mercado no ranking da L'Oréal neste segmento.

Mesmo aumentando a produção, as novas lojas da L'Oréal terão apenas a linha nova iorquina da Kiehl's. Estes produtos são considerado de "luxo acessível", pela L'Oréal. As embalagens lembram produtos farmacêuticos.

A Kiehl's, fundada em 1851, começou em uma farmácia. A empresa era familiar e foi comprada pela L'Oréal em 2000. O preço médio dos produtos aqui será R$ 79, informa a empresa.

As lojas da marca Kiehl's poderão ser franqueadas. Duas já estão em operação em São Paulo, uma no Shopping Iguatemi e outra em Higienópolis. A terceira chega à capital paulista ainda em 2012, no Shopping Morumbi.

Em abril, será aberta a primeira loja no Rio, na sofisticada galeria Fórum Ipanema. Até o final do ano serão inauguradas outras três, no Shopping Leblon, Fashion Mall, Barra Shopping.

Também em 2012 a Kiehl's chega à capital mineira (BH Shopping e Shopping Pátio Savassi). Já há lojas no México, na Argentina e no Chile. São 860 no mundo.

Fonte: Valor Econômico

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